Com licença minha gente
Permitam me apresentar
Eu me chamo Mari Bigio
Sobrenome de além-mar
Nasci pra contar histórias
Inventadas ou memórias
Da poesia popular
Quero logo perguntar
Você saber o que é Cordel?
É história em verso e rima
Num folheto de papel
Patrimônio Cultural
O Cordel é sem igual
Poema de Menestrel
Com as honras e laurel
Da nossa rica cultura
Tem força na oralidade
Potente Literatura
O Cordel é imponente
Apresenta, geralmente
Na capa a xilogravura
Um carimbo com gravura
Uma arte independente
A matriz é de madeira
E a tinta vem gentilmente
A beleza revelar
E assim poder estampar
Os folhetinhos, na frente!
E assim peço, humildemente
Licença, vou começar
Vou falar de alguns heróis
De heroínas vou lembrar
Sertanejos, nordestinos
Que meninas e meninos
Possam sempre se inspirar
Quero logo iniciar
Esse nosso Panteão
Lembrando de um homem santo
Peregrino do Sertão
Do povo um grande guerreiro
Foi Antônio Conselheiro
Um profeta da razão
Com seu cajado na mão
Amor e fé como escudos
Foi um grande visionário
Como hoje atestam os estudos
Fundou uma sociedade
Baseada na igualdade
Era o Arraial de Canudos!
Pobres e índios desnudos
Agricultores sem terra
Escravizados libertos
Cuja miséria desterra
Em Canudos recebidos
Por sua fama atraídos
No Belo Monte, na serra.
Mas logo viria a Guerra
Que até hoje está marcada
Uma trama tão sangrenta
Foi nos livros retratada
Conselheiro liderou
E Canudos enfrentou
Fez humana barricada
O exército em retirada
Várias vezes, recuou
Pois temia a grande força
Do povo que ali ficou
Até que numa investida
A luta enfim foi vencida
Do arraial nada restou
Mas Conselheiro ficou
Para sempre ser lembrado
Levaram sua cabeça
Seu corpo fora enterrado
Mas sua história ‘inda corre
Pois um herói nunca morre
Segue vivo o seu legado.
Outro herói decapitado
Que pra muitos foi bandido
O ilustre Rei do Cangaço
Pelo mundo conhecido
O Famoso Lampião
Que viveu lá no Sertão
Homem muito destemido
Maria Foi Cangaceira
Como Dadá foi também
Mulheres cheias de força
Que alcançaram muito além
Do que o tempo permitia
Que nos sirvam como guia
Pra sermos fortes, amém!
Dentre tantas heroínas
Dandara quero exaltar
Mulher negra, quilombola
Que é pra gente se orgulhar
E saber que a nossa herança
É de luta e de esperança
Para ninguém questionar
Nós precisamos lembrar
Da escravidão que passou
Honrar os antepassados
Que o europeu subjugou
Nossa origem evocar
Lá do outro lado do mar
O canto negro ecoou
Eu agora me despeço
Mas a lista não termina
Viva o povo desta terra
Nordestinos, nordestinas
O Cordel pediu passagem
Pra fazer esta homenagem
Aos heróis e heroínas!
Cada um com sua sina
Ariano Suassuna!
Luiz Gonzaga de Exu,
Baião foi sua fortuna
Também Maria Firmina
Romancista feminina
Com sua escrita oportuna
E a história coaduna
com a força da enfermeira
Anna Nery, da Bahia
No Brasil foi pioneira
Frei Caneca fuzilado
Por ter revolucionado
Nossa história por inteira
E assim, queira ou não queira
Não há como questionar
Nordestino é povo heroico
de jeito peculiar
me despeço, está na hora
adeus eu já vou embora
torço pra logo voltar!