Feliz dia para todas as mães.

A Mãe Que Pariu o Mundo - por Diego Gibran

 

Meu primeiro Cordel, escrito em Maio de 2007, às vésperas do dia das mães, em homenagem à minha mãe, depois de um desentendimento que tivemos. Porque na raiva também reafirmamos o amor.

O Cordel foi lançado em Agosto do mesmo ano, e conquistou o quarto lugar na Recitata 2007 do Festival Recifense de Literatura e sua primeira edição foi publicada pela Fundação de Cultura do Recife ,na coleção Leandro Gomes de Barros.

 

Dedico esse texto a todas mães que geram e gerem mundos – mais que complexos – todos os dias.

 

 

 

A Mãe que pariu o Mundo

(1)

Essa história é contada

Pela crença popular

Duma vila abandonada

Na Estrada do Pilar

Da cidade de Tetéu

Distrito de Cachumbá.

(2)

Antes era o universo

Um vão negro de dar dó

Tinha nada, só estrelas

Feitas de brilhante pó

Espalhadas pelo Vento

Que então reinava só.

(3)

O Senhor do Infinito

Cansou da escuridão

Teve idéia de fazer

A grande rebelião:

Roubou uma das estrelas

E a pôs em sua mão

(4)

Disse: estrela!oh, estrela!

Me cansei de ser sozinho

Nem o Vento é meu amigo

Pois é rei e é mesquinho

E também cansei do preto,

Que enegrece meu caminho

(5)

Sou Senhor do Infinito!

Quero muito colorir!

O universo é a tela

E de ti há de surgir

A mais prima obra-prima

O Mundo irás parir!

(6)

Nessa hora, emocionado

O Senhor lacrimejou

Uma água doce , cálida

Pela face lhe rolou

Pranto-sumo, seiva bruta

À estrela alimentou.

(7)

Esta fez-se então mulher

Com os seios volumosos

Com as ancas abarcantes

Os quadris voluptuosos

Já no âmago levava

Os pinguinhos preciosos…

(8)

O choro fertilizante

Já  a tinha invadido

O seu corpo estremecia

Totalmente possuído

Por prazer e por torpor,

Por um caos enternecido.

(9)

A estrela-mulher feita

Adornou a sua testa

Com as flores lactosas

Das galáxias em festa

Recolheu-se a um canto

Pra tirar a sua sesta

(10)

Bem longe da proteção

Daquele que lhe criou

Ela descansava leve

Quando o Vento a rondou:

Sinto falta duma estrela

Acho que Ele roubou!

(11)

Amaldiçoada seja,

Tua cria ao nascer!

Vejo brilho no teu rastro!

És estrela, posso ver!

No Mundo que vai chegar

Vis desgraças hão de ter!

(12)

O Senhor ao escutar

Acudiu em seu favor

Fez do Vento simples brisa

Pra soprar quando calor

Acalmou a prenha-astral

E beijou-lhe com amor.

(13)

[Aliás, o sentimento

Que acabo de citar

Foi apenas nomeado

Muito tempo após chegar

A tão esperada cria

Como logo vou narrar…]

(14)

O feto desenvolveu-se,

Era grande e saudável,

Tão redondo e pulsante!

E a mãe de tato afável

Acarinhava a barriga

De maneira muito amável

(15)

De repente houve um estrondo

A mulher soltou um grito…

Uma água caudalosa

Pingou do ventre contrito

Cheia de sal e de vidas

(Eis o Mar aqui descrito)

(16)

Logo após a enxurrada

veio então a dor imensa

pois o sólido doía

de maneira muito intensa

a mulher acocorou

fez dos braços uma prensa

(17)

[uma música ao longe

começou-se a escutar…

canto lúdico entoado

uma flauta a tocar

o Senhor entrou em transe

começando a meditar]

(18)

E ao mesmíssimo tempo

que a mulher empurrava

quanto mais forte a dor

mas a música aumentava!

E uma ponta de luz

do seu sexo emanava.

(19)

Finalmente um grito mudo.

Era um “ai” do coração

Uma gota de suor

Gotejou na imensidão

E o Mundo foi expulso

Com enorme profusão…

(20)

As cores se misturavam

Água e terra se fundiam

Com o fogo e o ar

As vidas verdes cresciam

Do mar apontavam bípedes

Caminhantes, que caminham

(21)

A mulher aliviada

Ali mesmo adormeceu

Com o peito apertado

Que nem ela entendeu

Queria afagar o Mundo

Tê-lo sempre ao lado seu

(22)

Era o Amor que ali nascia

Com tamanha intensidade

Aliou-se  à Alegria,

Ao Respeito, à Verdade,

Ao Carinho, ao Cuidado,

Calma e Serenidade.

(23)

Aliou-se às Virtudes

Que em verdade brotavam

Dos seios da Mãe do Mundo

(e) as bocas dele sugavam

o Leite cheio de Bem

e assim se saciavam

(24)

O Senhor , pra terminar

sua imensa aquarela

fez com a ponta do dedo

mais uns pontos nessa tela

fez o Sol, astro maior

bola de fogo-amarela

(25)

E assim o Mundo segue

com o Mal e com o Bem

pois a maldição do Vento

fez-se fato aqui também

mesmo que sua mãe vele

a tristeza vive aquém

(26)

Brisa negra ainda sopra

dentro do ouvido humano

empoeira corações

e sobre a paz joga um pano

faz a guerra olho a olho,

Dente a dente, mano a mano.

(27)

Quase ao fim, urge lembrar

O Mundo é bom em essência

Fruto de vontade pura

Colorindo a existência

Foi nutrido com o líquido

Da bondade em excelência

(28)

Há desgraças é verdade

Mas há muita alegria

Seus filhos conhecem dor

Mas o Amor em primazia

Reina no fundo do ser

Em cada um, cada dia.

(29)

À mulher que aqui me pôs

Dedico essa poesia

Ela em muito se parece

Com a mãe que eu descrevia

Fato é feita da brancura

Do Leite que escorria.

(30)

Com ele me amamentou

Me cuidou, me fez sorrir

Fez chorar e fez calar,

Levantar após cair

Me mostrou o alicerce

Para a vida construir.

(31)

Já vou acabando então

Versando assim o que sinto

*Entrou na boca do pato

saiu na boca do pinto

Pra terminar quem quiser

Se vire e conte mais cinco!

 

*(adaptação de versos ouvidos na infância, depois minha de  avó, ou minha mãe, contar uma história)

Mariane Bigio Nascimento

Sobre Mariane Bigio

Poeta e Videasta. Eu faço versos como quem chora, ama, brinca, ri.... Eu faço versos como que vive.
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