O Cordel nos conta a famosa sina dos dois amores da Colombina – Cordel para crianças

Colombina - por Murilo Silva
(todos os direitos reservados)

Rei Momo deu uma Festa
Pra fazer uma homenagem
À Rainha Estrela Vênus
Que estava de passagem
Todo mundo mascarado
Cada qual um personagem

A Alegria colocou
A máscara da Tristeza
O Príncipe se enfeitou
Com coroa de Princesa
E com chapéu de duende
Uma Ninfa da beleza!

Um rapazinho chegou
Meio tímido e choroso
Sua roupa preta e branca
Um figurino garboso
Uma lágrima no rosto
E semblante generoso

O seu nome Pierrô
Da corte um trabalhador
Sonhava em um dia
Conquistar o seu amor:
A bonita Colombina
Na festa também chegou

Mas que mocinha tão bela!
Veio como bailarina
Com a pose de um fada
Com os olhos de menina
O Rei Momo a recebeu
“Oh, bem-vinda Colombina!”

Um palhaço colorido
Que se chamava Arlequim
Chegou dando cambalhota
Fazendo o maior festim
“Vou contar uma piada
todos olhem para mim!”

Pierrô não achou graça
Mas Colombina sorriu
De mãos dadas com Arlequim
A bailarina saiu
Pierrô ficou tristonho
“Oh, o meu amor sumiu!”

E o tal bobo da corte
O fabuloso Arlequim
Conversava com a menina
De mãos dadas no jardim
E fez tanta palhaçada
Que a coitada achou ruim!

Colombina retornou
Pra dançar lá no salão
Convidou o Pierrô
E pegou na sua mão
O rapaz quase desmaia
Bateu forte o coração!

“Porque não fala um agrado?
ou me canta uma canção”
Lhe pediu a Colombina
Quando deixava o salão
Pierrô soltou a voz
E cantou com emoção:

“O Jardineira porque estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?
Foi a camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu!”
***

Colombina achou bonito
O timbre do Pierrô
Mas que música mais triste
Escolheu esse cantor!
“Desse jeito não me aguento!”
Colombina suspirou!

E nos bailes do Rei Momo
Colombina dividiu
Dançava com Arlequim
Com quem um dia sorriu
Ora com o PierrôQue era ótimo cantor
Mas a lágrima caiu

E depois de muito tempo
Até hoje ‘inda é assim
Sempre atrás da Colombina
Pierrô e Arlequim
Um fazendo estripulia
O outro na cantoria
Na serenata sem fim

E ela nunca se decide
Pois aos dois ela quer bem
Gosta muito da comédia
Seriedade também
Bom mesmo é ver Colombina
Dançando qual bailarina
Alegre como ninguém!

por Mari Bigio

*** trecho da canção “A Jardinei”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, interpretada por Orlando Silva.

Assista o vídeo do Cordel Animado contando essa história!

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Duas Pastorinhas

Bonecas Pastorinhas por @feitohamão

Em um dia especial
Uma doce Pastorinha
Se preparava feliz
Para a Queima da Lapinha

Pôs o seu vestido azul
Que era cor do seu cordão
Saiu na rua cantando
Uma bonita canção:

“Boa noite meus senhores todos1
boa noite senhoras também
somos pastoras
pastorinhas belas
que alegremente vamos à Belém”

Pensava na brincadeira
Das noites de Pastoril
De tradição natalina
Da cultura do Brasil

Bem no meio do caminho
Encontrou sua vizinha
Com um vestido encarnado
Também era Pastorinha

Seguiram cantando juntas
Cumprimentando os passantes
Ficavam sempre felizes
Encontrando outros brincantes

Quando bateu meio-dia
O Sol quente de rachar
As amigas Pastorinhas
Sentaram pra descansar

Acharam uma boa sombra
Debaixo de um arvoredo
Mas ouviram um assobio
Que lhes causou grande medo!

“Isso é barulho de bicho
que está pronto pra atacar!
que bicho uma hora dessas
tá na mata a vadiar?”

Disse assim a Pastorinha
De laço azul na cabeça
E completou: “Lobisomem?
só chega caso anoiteça!”

A do Cordão Encarnado
Desconfiou do ruído
“Não é burrinha, nem boi
que eu conheço o mugido!

parece canto de pássaro
que não gosta de cantar
um canto saudoso e triste
faz o couro arrepiar!

um canto de mau agouro
vou rezar pro Anjo bom…
pra ver se o canto macabro
some logo ou muda o tom!”

E mesmo muito assombradas
As duas ficaram lá
Eis que o bicho apareceu
Era ele: o Jaraguá!

Elas quase desmaiavam
Quando o bicho enorme veio
Com seu crânio de cavalo
“Virge mãe, que bicho feio”!

O bicho de boca aberta
Avançava nas mocinhas
Era alto e pescoçudo
Bem maior que as Pastorinhas

Mas as duas recordaram
De uma canção pra ajudar
Pois o tal do Jaraguá
Gosta mesmo é de dançar

“Chegou, chegou2
já chegou meu Jaraguá
o bichinho é bonitinho
ele sabe vadiar…”

O bicho fechou a boca
E começou a bailar
Deu meia-volta e fez fita
Queria era se amostrar

Com pandeiros de fitinhas
As Pastoras, compassadas,
Pensavam na sua Mestra
E Contra-Mestra ensaiadas

Lembravam da Borboleta
Com sua delicadeza
E até mesmo da Diana
Tão cheia das incertezas

A Camponesa também
Veio logo na memória
E a encantada Cigana
Cheia de fibra e de glória

Evocando a força delas
Perderam logo seu medo
Bailaram com o Jaraguá
Mas isso fica em segredo

“Até que ele é bonitinho!”
Disseram no mesmo instante
O Jaraguá se movia
Com seu jeito vacilante

Como que enfeitiçado
O monstrengo deu no pé
Mas antes, com seu focinho
Fez nas duas cafuné

“Vou contar pra minha Mestra!”
“E eu também vou falar
para a minha Contra-Mestra
assim que eu a encontrar!”

Aquele encontro foi breve
Mas ficou no coração
No dia em que as pastorinhas
Dançaram com a assombração!

A tarde caiu de vez
E foi chegando à noitinha
Foram as duas Pastoras
Para a Queima da Lapinha!

“Viemos para adorar
jesus Nasceu para nos salvar…”3

  1. Cantiga típica do folguedo Pastoril
  2. Cantiga do Reisado
  3. Cantiga típica do folguedo Pastoril

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Encontro com Paulo Freire – Cordel

Capa por Murilo Silva – Todos os Direitos Reservados
não reproduza sem autorização.

Caros leitores e ouvintes
De toda América Latina
Que na Jornada me escutam
Minha verve pura e fina
Vem saudar o centenário
De um pensador visionário
Que até hoje nos ensina

Nos meus sonhos de poeta
Eu encontro as entidades
Os heróis, as heroínas
Tão cheios de qualidades
E os mártires da nossa história
Cujo o legado e memória
Transformam realidades

Num desses encontros míticos
Um sábio me visitou
Homem culto, muito simples
Junto a mim devaneou
Sobre o presente nefasto
Que sobre o solo tão vasto
Deste país se instalou

Era ele Paulo Freire!
Patrono da educação!
Cujas obras e os estudos
Promovem libertação
Mudando a pedagogia
Buscando a filosofia
Também conscientização

Não me sinto anfitriã
A altura deste evento
Pois receber Paulo Freire
Ainda que em pensamento
Honraria sem igual
Por demais fenomenal
Sem qualquer planejamento

Foi quando ali aprendi
Que também posso ensinar
Que todo encontro é de troca
E me permiti sonhar
Pois sua sabedoria
Era doce, não feria
Com afeto ao partilhar

Ao opressor não importa
A nossa emancipação
A Cultura do Silêncio
É a que lhe dá razão
Educar é libertar
Refletir e questionar
Mais que alfabetização

É na indignação
Que se faz a ruptura
Somos todos os sujeitos
Fazedores de cultura
Atuamos como seres
No vai e vem dos saberes
Aprendizagem mais pura

Mesmo alfabetização
Precisa ser popular
Levar em conta o contexto
Do sujeito e do lugar
Com princípios progressistas
E anticolonialistas
Para revolucionar

A mercantilização
Que à escola privatiza
Só nos tolhe ainda mais
Opressão que se enraíza
Que diminui, que rotula
Que não expande e modula
Ao que o Capital precisa

Se hoje estamos reféns
De um desgoverno tão vil
Lá no passado fizemos
Uma educação servil
Que decorava e engolia
Uma escola que punia
Com a palmatória viril

A Escola deve ser
Democrática, acessível
Também publica e gratuita
Sem a classe como nível
Que difere a qualidade
Afeita à diversidade
De maneira indiscutível

No fim da reunião
Eu ‘inda pude escutar
Paulo Freire me falando
Sobre o verbo esperançar
Que é mover-se pra mudança
Aliada à esperança
Pra muito além de esperar

Ele sorriu e me disse
Em tom bastante otimista:
“Que alegria conhecer
uma mulher cordelista
se educação é a cura
é mesmo a Literatura
que nos trará tal conquista…

o Ato de ler é tão nobre
e a poesia é tão singela
arte de dizer o mundo
como um pintor faz na tela
a palavra é o pincel
e estas rimas em cordel
são as cores da aquarela!”

Eu me vi emocionada
E não queria acordar
Mas lembrei-me da lição
Sobre o verbo esperançar
Eu devo estar bem desperta
Com meu coração alerta
Ideais a me guiar

Que sejamos freirianos
Em prol da nossa nação!
Que transformemos o mundo
Através da Educação!
Que o sonho  seja o motor
A cultura o condutor
Destino à Libertação!

Por Mari Bigio, em Setembro de 2021. Cordel feito especialmente para o Ato Político e Cultural em Homenagem ao 100 anos de Paulo Freire, à convite da CNTE.

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Adivinhas Passarinhas em Cordel

Adivinhas Passarinhas
por Murilo Silva – Todos os diretos reservados

Quem é bom de adivinhar
É capaz de responder
Tudo que eu vou perguntar
Quem souber vai me dizer!

É só pensar um pouquinho
Para entrar no nosso clima
Lembrando dos passarinhos
E com a ajuda da rima!

O que falamos, repete
Só precisa de um ensaio
Alguns o chamam de “Louro”
Quem é ele? O _________________

É caçador, com certeza
Voa alto e vai ao chão
O pintinho é sua presa
Tem medo do ________________

Deve enxergar muito bem
Pelo canto que eu ouvi
Se a flor é bem-me-quer
Passarinho é _______________

Se vai chover no sertão
A ave anunciará
Na canção do Gonzagão
Quem faz “psiu”? ________________

O seu canto é o mais bonito
Desde a Terra até o Sol
Tão famoso passarinho
O pequeno _________________

Seu bico é longo e bem fino
É do néctar coletor
Bate as asas bem depressa
Quem é ele? O _________________

Usando a matéria-prima
Que o oleiro faz o jarro
É um pássaro engenheiro
Ele é  ____________________

Ele bica e faz barulho
Não pra dizer “oi” ou “tchau”
Busca larvas na madeira
Quem é ele? O __________________

Respostas:

1.Papagaio

2.Gavião

3.Bem-te-vi

4.Sabiá

5.Rouxinol

6.Beija-flor

7.João-de-Barro

8.Pica-pau

Por Mari Bigio

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Mar de Histórias – Cordel Ambiental

Murilo Silva – todos os diretos reservados


Fazia um Castelo de Areia
Quando a onda o derrubou
Fiquei triste, mas notei
Que o mar me presenteou
Com um concha bonita
Na água se revelou

A Concha se abriu inteira
Como uma boca, de gente
Dentro dela apareceu
Uma Pérola reluzente
Com seu brilho magistral
Quase que incandescente

Como bola de Cristal
Vi na pérola o futuro
Algo triste e preocupante
Revoltante e obscuro
O mar todo poluído
Qual fosse de lixo puro!

Os peixes todos morrendo
E as tartarugas marinhas
A areia, toda suja
Sem castelos, sem nadinha
Uma sereia chorava
Seu canto era ladainha

As Baleias deliravam
Crianças entristecidas
Enquanto os adultos todos
Seguiam com suas vidas
Talvez por falta de tempo
Ou a alma endurecida

Meus olhos choravam mar…
Com as lágrimas salgadas
A visão se atenuou
E a conchinha foi fechada
Mas a voz do oceano
Não ficou silenciada

O Mar sempre conta histórias
De saudade e de amor
Enredos muito famosos
Na voz de algum pescador
Mas mostrou-me uma tragédia
De tristeza e muita dor

Mas podemos transformar
E mudar nosso destino
Cuidando do mar, das águas
Sendo adulto ou pequenino
Lutar como for possível
Pra vencer tal desatino!

Como eu fui persistente
Construí novo castelo
Mesmo que a onda o leve
Contra o mar, não me rebelo
O oceano é natureza
É dom divino e tão belo

Criança que já brincou
Junto ao grande mar de histórias
Que cresça e seja um adulto
Com excelente memória
Lembrando dos castelinhos
E de toda a sua glória

Que traga sempre na mente
Que lembre de preservar
As águas e os animais
Que vivem nesse habitat
Sempre atento às mil histórias
Que o mar tem pra nos contar!

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Cordel para Meditar – Jardim da Primavera

por Murilo Silva – todos os direitos reservados

Te convido a escutar
A beleza da poesia
Do encontro entre as palavras
Com encanto e a magia
Feche os olhos e desfrute
Qual fosse uma melodia…

Sente ou deite, confortável
Respire profundamente
Inspire puxando o ar
Solte vagarosamente
Deixe que o ar penetre
E acalme a sua mente

Inspire como quem sente
Um balão se encher de ar
Expire como se fosse
Ao balão esvaziar
Deixe que o ar preencha
Ocupando o seu lugar

Então vamos passear
Por um mundo de quimera
Um Jardim, um paraíso
Que estava à sua espera
Lugar cheio de magia
Onde sempre é Primavera

Aqui a atmosfera
Tem cheirinho de hortelã
Nas folhas cintila o brilho
Do orvalho da manhã
No casulo a borboleta
É uma fruta temporã

Ela é sua anfitriã
Voa delicadamente
Apresentando o jardim
Que se mostra à sua frente
Suas asas fazem cócegas
E seu voo é reluzente

Passarinhos voam rente
Em paz no seu habitat
As flores se desabrocham
E a borboleta a pairar
Se nutre do rico pólen
Que o jardim quer ofertar

As folhas a farfalhar
Com o vento vão bailando
Uma árvore bem antiga
Mexe a copa, convidando
Oferece a sua sombra
A quem vai se aproximando

O vento vai te levando
Como um tapete invisível
Te conduz suavemente
De maneira imprevisível
E te faz deitar à sombra
Daquela árvore tão incrível

Sensação indescritível
No seu corpo se derrama
É como se o vento fosse
Lençol de seda, na cama
De colchão muito macio
A colcha feita de grama

Seu cabelo se esparrama
E a grama te faz carinho
Desde o couro cabeludo
Até o pé, o dedinho
Massageia levemente
O seu corpo inteirinho

Respire mais um pouquinho
Sinta esse relaxamento
Deixe que a tranquilidade
Envolva o seu pensamento
Ouça a voz desse jardim
Desfrute desse momento

Novamente sopra o vento
E a borboleta retorna
Repousando em sua face
Sob a luz do sol tão morna
A sombra que te cobria
Agora apenas contorna

A gota na pétala entorna
Goteja como garoa
Refrescando a sua pele
E a pequena sobrevoa
Dando adeus em despedida
Cigarras cantam a loa

Nossa viagem foi boa
Mas já vai chegando ao fim
Volte aos poucos, inspirando
O frescor desse jardim
Expirando e se afastando
E dizendo adeus, enfim

O canto fica mais longe
O vento assenta e descansa
Borboleta se recolhe
Na folha verde esperança
O Jardim da Primavera
Agora vira lembrança

Abra os olhos, devagar
Ou então, deixe fluir
Que a paz seja o travesseiro
Se você quiser dormir
E que a natureza possa
Ao seu coração nutrir

Que a poesia embale o sonho
E o verso possa ecoar
Preenchendo o coração
De quem deixou-se levar
Pela brisa das palavras
Do Cordel pra Meditar.

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Heroínas e Heróis Nordestinos

Com licença minha gente
Permitam me apresentar
Eu me chamo Mari Bigio
Sobrenome de além-mar
Nasci pra contar histórias
Inventadas ou memórias
Da poesia popular


Quero logo perguntar
Você saber o que é Cordel?
É história em verso e rima
Num folheto de papel
Patrimônio Cultural
O Cordel é sem igual
Poema de Menestrel


Com as honras e laurel
Da nossa rica cultura
Tem força na oralidade
Potente Literatura
O Cordel é imponente
Apresenta, geralmente
Na capa a xilogravura


Um carimbo com gravura
Uma arte independente
A matriz é de madeira
E a tinta vem gentilmente
A beleza revelar
E assim poder estampar
Os folhetinhos, na frente!


E assim peço, humildemente
Licença, vou começar
Vou falar de alguns heróis
De heroínas vou lembrar
Sertanejos, nordestinos
Que meninas e meninos
Possam sempre se inspirar


Quero logo iniciar
Esse nosso Panteão
Lembrando de um homem santo
Peregrino do Sertão
Do povo um grande guerreiro
Foi Antônio Conselheiro
Um profeta da razão


Com seu cajado na mão
Amor e fé como escudos
Foi um grande visionário
Como hoje atestam os estudos
Fundou uma sociedade
Baseada na igualdade
Era o Arraial de Canudos!


Pobres e índios desnudos
Agricultores sem terra
Escravizados libertos
Cuja miséria desterra
Em Canudos recebidos
Por sua fama atraídos
No Belo Monte, na serra.


Mas logo viria a Guerra
Que até hoje está marcada
Uma trama tão sangrenta
Foi nos livros retratada
Conselheiro liderou
E Canudos enfrentou
Fez humana barricada


O exército em retirada
Várias vezes, recuou
Pois temia a grande força
Do povo que ali ficou
Até que numa investida
A luta enfim foi vencida
Do arraial nada restou


Mas Conselheiro ficou
Para sempre ser lembrado
Levaram sua cabeça
Seu corpo fora enterrado
Mas sua história ‘inda corre
Pois um herói nunca morre
Segue vivo o seu legado.


Outro herói decapitado
Que pra muitos foi bandido
O ilustre Rei do Cangaço
Pelo mundo conhecido
O Famoso Lampião
Que viveu lá no Sertão
Homem muito destemido


Maria Foi Cangaceira
Como Dadá foi também
Mulheres cheias de força
Que alcançaram muito além
Do que o tempo permitia
Que nos sirvam como guia
Pra sermos fortes, amém!


Dentre tantas heroínas
Dandara quero exaltar
Mulher negra, quilombola
Que é pra gente se orgulhar
E saber que a nossa herança
É de luta e de esperança
Para ninguém questionar


Nós precisamos lembrar
Da escravidão que passou
Honrar os antepassados
Que o europeu subjugou
Nossa origem evocar
Lá do outro lado do mar
O canto negro ecoou


Eu agora me despeço
Mas a lista não termina
Viva o povo desta terra
Nordestinos, nordestinas
O Cordel pediu passagem
Pra fazer esta homenagem
Aos heróis e heroínas!


Cada um com sua sina
Ariano Suassuna!
Luiz Gonzaga de Exu,
Baião foi sua fortuna
Também Maria Firmina
Romancista feminina
Com sua escrita oportuna


E a história coaduna
com a força da enfermeira
Anna Nery, da Bahia
No Brasil foi pioneira
Frei Caneca fuzilado
Por ter revolucionado
Nossa história por inteira


E assim, queira ou não queira
Não há como questionar
Nordestino é povo heroico
de jeito peculiar
me despeço, está na hora
adeus eu já vou embora
torço pra logo voltar!

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A Princesa e a Fava – Reconto em Cordel

Capa por Murilo Silva – Todos os direitos reservados

Princesa tem sono leve
É o que sempre ouvi dizer
No entanto essa princesa
Que você vai conhecer
Dormia sono profundo
Podendo acabar-se o mundo
Que ela nem vai perceber!

Ela tinha parentesco
Com a Bela Adormecida
Mora na Pedra do Reino*
Por todos é conhecida
A princesa nordestina
Com semblante de menina
Porém madura e vivida

Cochilava um certo dia
Debaixo de um Juazeiro
Foi quando a Ema Gemeu**
Abrindo um grande berreiro
Um sinal de coisa ruim
E a princesa mesmo assim
Sonhava no seu terreiro

– Levante e vá visitar
o príncipe Dom Augusto
lá no Reino da Lonjura
rapaz belo e bem robusto
Gritou sua mãe, a rainha
Acordando a pobrezinha
Que quase morre de susto

Ela foi na carruagem
Levada por um jumento
Balançando mais que tudo
– Desse jeito eu não me aguento!
[Mas dormiu da mesma forma
pois seu sono não tem norma
e nem precisa de alento…]

Chegando lá na Lonjura
Depois de dormir bastante
Foi recebida no reino
No fim do mundo, distante
A rainha soberana
Daquele reino a tirana
A esperava hesitante:

– Para casar com meu filho
só sendo mesmo perfeita!
deve ser doce e bem meiga
se não ele não te aceita!
tem que ser bem delicada
ser quieta e recatada
para ser por ele eleita!

A princesa insatisfeita
Não gostou do que ouviu
Mas fez que “sim” com seu rosto
E a tal rainha sumiu…
Ao quarto foi conduzida
Pela cama seduzida
Se acomodou e dormiu

Só que antes a Rainha
Colocou uma semente
Entre os colchões confortáveis
Próprios pra gente dormente
Um carocinho de fava!***
Um teste que se aplicava
À princesa pretendente

Se a princesa adormecesse
E não percebesse o grão
Não teria sono leve
Como manda a tradição
Seria então descartada
E da Lonjura enxotada
De volta para o Sertão

Mas a princesa dormindo
Sonhou com a ema gemendo…
E acordou do pesadelo
– Que sonho triste e horrendo!
sonhei que a ema gemia
dormindo eu nem percebia
já tô toda me tremendo!

O Sonho foi como aviso
E ela então se levantou
Nunca teve pesadelo
Por isso se preocupou
Queria voltar pra casa
Mas só se tivesse asa
Pois a rainha a trancou

Logo lembrou Rapunzel
Sua priminha distante
Mas não tinha o cabelão
E assim ficou relutante
Como fazer pra fugir?
Foi aí que viu surgir
Uma ideia bem brilhante

Foi à cama bem forrada
Para os lençóis retirar
Foi desforrando os colchões
Pois pretendia amarrar
Cada lençol com um nó
Qual fossem corda ou cipó
Pra poder se pendurar

Pela janela saltar…
Seu plano em nada pecava
Foi quando em meio aos colchões
Viu um caroço de fava
Que coisa mais intrigante
Ela pensou num instante
– Era só o que me faltava!

Desistiu da empreitada
E esperou amanhecer
A porta foi destrancada
E com a rainha foi ter
Chegou bufando, bem brava
Com o caroço de fava
Para todo mundo ver

A rainha estava estanque
Nem podia acreditar
– Você tem o sono leve!
com meu filho vai casar
vê-se que é delicada
pois dormiu incomodada
assim pude lhe testar

– Eu sou vim te perguntar…
[Disse bem bruta a princesa]
onde está o saco inteiro
da fava da realeza?
mande botar na bagagem
que em tempos de estiagem
vai ser útil, com certeza

pois adoro comer fava
e como até me fartar
pode dizer ao seu filho
que não quero me casar
que não sou fina, nem santa
mas só não durmo sem janta
por isso vim reclamar

essa noite um pesadelo
esteve me perturbando
nunca tive sonho ruim
foi meu bucho reclamando
de deitar sem refeição
não foi por causa de um grão
que estava me incomodando!

pensei até ter ouvido
a tal da ema gemer
mas foi mesmo o meu estômago
que não teve o que comer
fique sabendo Rainha
com essa gente mesquinha
eu não quero me envolver!

e se um dia eu voltar
melhore a recepção!
pois eu viajei por dias
cheguei com a fome do cão
e me portei como dama
mas me mandaram pra cama
sem um pedaço de pão?

A rainha se calou
Pois estava envergonhada
Viu a princesa partir
Muito brava e chateada
A partir daquele dia
Ela não mais testaria
Mais nenhuma convidada

Ao invés disso, mudou
Fazendo a recepção
Como manda o figurino
E também a tradição
Oferecendo um banquete
Com fava, angu e sorvete
E amor no coração

A princesa dorminhoca
Voltou pra casa sozinha
Com duas sacas de fava
E mais uma de farinha
Dormiu bem e satisfeita
Com a fava na cama, eita!
Mas dentro da barriguinha!

Por Mari Bigio, julho de 2021

A Princesa e a Fava, de Mari Bigio, é uma releitura do Conto de Fadas Clássico “A Princesa e a Ervilha”, de Hans Christian Andersen (1835). No enredo original a delicadeza da princesa é testada com uma ervilha, colocada em meio a uma pilha de colchões. Por sua pele extremamente delicada, só uma princesa de verdade é capaz de perceber o grão, pelo incômodo que ele provoca durante o sono.

* Referência ao “Romance da Pedra do Reino”, do mestre Ariano Suassuna
** Referência à canção “Canto da Ema”, do mestre Jackson do Pandeiro
*** A Fava é uma semente semelhante ao feijão, muito comum em estados do Nordeste brasileiro.

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Um Reino sem Dengue

Um Reino sem Dengue

Em 2021 fomos convidadas para apresentar a versão online da história “Um Reino sem Dengue”, o resultado vocês podem conferir no Youtube, um espetáculo de 30 minutos, utilizando bonecos, com tradução em libras, permeado por músicas e sonoplastia, que você pode exibir na sua escola! O texto traz informações muito importantes no combate ao Mosquito Aedes Aegypti!

ASSISTA AQUI!

Ministério do Turismo e Chem-Trend apresentam: “Um Reino Sem Dengue”.

Depois de circular por centenas de cidades Brasil afora, ‘Um Reino Sem Dengue’ ganha versão online para entreter toda a família e transforma a tela no seu palco principal para continuar conscientizando crianças e adultos sobre a dengue, um tema que se mantém atual e que, agora, utiliza a tecnologia para diminuir distâncias e garantir acesso à cultura e lazer à população de todas as idades.

A peça é ambientada em um reino onde não existem doenças, mas que é invadido por um inimigo “invisível” que deixa o rei doente. Para desvendar este mistério, o melhor detetive das redondezas é chamado. Com a ajuda do príncipe, das princesinhas e seus súditos, ele descobre que o grande vilão é o mosquito Aedes Aegypti. A história é baseada no livro homônimo de Alda de Miranda, que traz ilustrações de Ricardo Girotto.

Com músicas originais e paródias, a dupla de irmãs, Mari e Milla Bigio, cativa a atenção de grandes e pequeninos ao longo do enredo. A produção é da Villa 7 e AH 7 produções. O vídeo foi feito pela Curumim Produções, em parceria com o TECH HUB.

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Adivinhas Juninas

por Murilo Slva
Adivinhas Juninas – por Murilo Silva

Quem é bom de adivinhar
É capaz de responder
Tudo que eu for perguntar
Quem souber vai me dizer!

É só prestar atenção
Para entrar no nosso clima
Lembrando do São João
E com a ajuda da rima!

Pois… o que é, o que é?
Quem errar vai levar breque
É comida mas tem pé?
É o Bolo… Pé-de-moleque!

Tem dente, tem cabelinho
Mas não tem pai, nem tem filho
Ele é bem amarelinho
O que é, então? O Milho!

Ela é prima da Pamonha
De gostosura tão rica
Guloso dorme e até sonha
Em comer uma… Canjica!

Ela dança na panela
Mesmo se a banda não toca
Parece flor de tão bela
Quem adivinha? Pipoca!

No Balancê: saia gira…
Dança o pai, a mãe e a filha
Tem cobra, só de mentira
Todos dançam na…. Quadrilha!

E a Quadrilha que se preze
Tem um noivo que é astuto
Tem noiva, um Padre que reze
No… Casamento Matuto!

Antes voava no céu
Agora enfeita o Salão
Colorido, de papel
Quem já sabe? É o Balão!

Lá no alto, enfileiradas
Todas bem coloridinhas
Deixam ruas decoradas
Adivinhou? Bandeirinhas!

Tem as teclas de um piano
E quando toca emociona
Gonzagão, há muitos anos
Tocava a sua… Sanfona!

Com sua luz tremulando
Esquenta a festança inteira
Com a chama crepitando
Todo arraial tem…? Fogueira!

Por Mari Bigio

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