Colombina - por Murilo Silva (todos os direitos reservados)
Rei Momo deu uma Festa Pra fazer uma homenagem À Rainha Estrela Vênus Que estava de passagem Todo mundo mascarado Cada qual um personagem
A Alegria colocou A máscara da Tristeza O Príncipe se enfeitou Com coroa de Princesa E com chapéu de duende Uma Ninfa da beleza!
Um rapazinho chegou Meio tímido e choroso Sua roupa preta e branca Um figurino garboso Uma lágrima no rosto E semblante generoso
O seu nome Pierrô Da corte um trabalhador Sonhava em um dia Conquistar o seu amor: A bonita Colombina Na festa também chegou
Mas que mocinha tão bela! Veio como bailarina Com a pose de um fada Com os olhos de menina O Rei Momo a recebeu “Oh, bem-vinda Colombina!”
Um palhaço colorido Que se chamava Arlequim Chegou dando cambalhota Fazendo o maior festim “Vou contar uma piada todos olhem para mim!”
Pierrô não achou graça Mas Colombina sorriu De mãos dadas com Arlequim A bailarina saiu Pierrô ficou tristonho “Oh, o meu amor sumiu!”
E o tal bobo da corte O fabuloso Arlequim Conversava com a menina De mãos dadas no jardim E fez tanta palhaçada Que a coitada achou ruim!
Colombina retornou Pra dançar lá no salão Convidou o Pierrô E pegou na sua mão O rapaz quase desmaia Bateu forte o coração!
“Porque não fala um agrado? ou me canta uma canção” Lhe pediu a Colombina Quando deixava o salão Pierrô soltou a voz E cantou com emoção:
“O Jardineira porque estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho Deu dois suspiros e depois morreu!”***
Colombina achou bonito O timbre do Pierrô Mas que música mais triste Escolheu esse cantor! “Desse jeito não me aguento!” Colombina suspirou!
E nos bailes do Rei Momo Colombina dividiu Dançava com Arlequim Com quem um dia sorriu Ora com o PierrôQue era ótimo cantor Mas a lágrima caiu
E depois de muito tempo Até hoje ‘inda é assim Sempre atrás da Colombina Pierrô e Arlequim Um fazendo estripulia O outro na cantoria Na serenata sem fim
E ela nunca se decide Pois aos dois ela quer bem Gosta muito da comédia Seriedade também Bom mesmo é ver Colombina Dançando qual bailarina Alegre como ninguém!
por Mari Bigio
*** trecho da canção “A Jardinei”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, interpretada por Orlando Silva.
Assista o vídeo do Cordel Animado contando essa história!
Capa por Murilo Silva – Todos os Direitos Reservados não reproduza sem autorização.
Caros leitores e ouvintes De toda América Latina Que na Jornada me escutam Minha verve pura e fina Vem saudar o centenário De um pensador visionário Que até hoje nos ensina
Nos meus sonhos de poeta Eu encontro as entidades Os heróis, as heroínas Tão cheios de qualidades E os mártires da nossa história Cujo o legado e memória Transformam realidades
Num desses encontros míticos Um sábio me visitou Homem culto, muito simples Junto a mim devaneou Sobre o presente nefasto Que sobre o solo tão vasto Deste país se instalou
Era ele Paulo Freire! Patrono da educação! Cujas obras e os estudos Promovem libertação Mudando a pedagogia Buscando a filosofia Também conscientização
Não me sinto anfitriã A altura deste evento Pois receber Paulo Freire Ainda que em pensamento Honraria sem igual Por demais fenomenal Sem qualquer planejamento
Foi quando ali aprendi Que também posso ensinar Que todo encontro é de troca E me permiti sonhar Pois sua sabedoria Era doce, não feria Com afeto ao partilhar
Ao opressor não importa A nossa emancipação A Cultura do Silêncio É a que lhe dá razão Educar é libertar Refletir e questionar Mais que alfabetização
É na indignação Que se faz a ruptura Somos todos os sujeitos Fazedores de cultura Atuamos como seres No vai e vem dos saberes Aprendizagem mais pura
Mesmo alfabetização Precisa ser popular Levar em conta o contexto Do sujeito e do lugar Com princípios progressistas E anticolonialistas Para revolucionar
A mercantilização Que à escola privatiza Só nos tolhe ainda mais Opressão que se enraíza Que diminui, que rotula Que não expande e modula Ao que o Capital precisa
Se hoje estamos reféns De um desgoverno tão vil Lá no passado fizemos Uma educação servil Que decorava e engolia Uma escola que punia Com a palmatória viril
A Escola deve ser Democrática, acessível Também publica e gratuita Sem a classe como nível Que difere a qualidade Afeita à diversidade De maneira indiscutível
No fim da reunião Eu ‘inda pude escutar Paulo Freire me falando Sobre o verbo esperançar Que é mover-se pra mudança Aliada à esperança Pra muito além de esperar
Ele sorriu e me disse Em tom bastante otimista: “Que alegria conhecer uma mulher cordelista se educação é a cura é mesmo a Literatura que nos trará tal conquista…
o Ato de ler é tão nobre e a poesia é tão singela arte de dizer o mundo como um pintor faz na tela a palavra é o pincel e estas rimas em cordel são as cores da aquarela!”
Eu me vi emocionada E não queria acordar Mas lembrei-me da lição Sobre o verbo esperançar Eu devo estar bem desperta Com meu coração alerta Ideais a me guiar
Que sejamos freirianos Em prol da nossa nação! Que transformemos o mundo Através da Educação! Que o sonho seja o motor A cultura o condutor Destino à Libertação!
Por Mari Bigio, em Setembro de 2021. Cordel feito especialmente para o Ato Político e Cultural em Homenagem ao 100 anos de Paulo Freire, à convite da CNTE.
Fazia um Castelo de Areia Quando a onda o derrubou Fiquei triste, mas notei Que o mar me presenteou Com um concha bonita Na água se revelou
A Concha se abriu inteira Como uma boca, de gente Dentro dela apareceu Uma Pérola reluzente Com seu brilho magistral Quase que incandescente
Como bola de Cristal Vi na pérola o futuro Algo triste e preocupante Revoltante e obscuro O mar todo poluído Qual fosse de lixo puro!
Os peixes todos morrendo E as tartarugas marinhas A areia, toda suja Sem castelos, sem nadinha Uma sereia chorava Seu canto era ladainha
As Baleias deliravam Crianças entristecidas Enquanto os adultos todos Seguiam com suas vidas Talvez por falta de tempo Ou a alma endurecida
Meus olhos choravam mar… Com as lágrimas salgadas A visão se atenuou E a conchinha foi fechada Mas a voz do oceano Não ficou silenciada
O Mar sempre conta histórias De saudade e de amor Enredos muito famosos Na voz de algum pescador Mas mostrou-me uma tragédia De tristeza e muita dor
Mas podemos transformar E mudar nosso destino Cuidando do mar, das águas Sendo adulto ou pequenino Lutar como for possível Pra vencer tal desatino!
Como eu fui persistente Construí novo castelo Mesmo que a onda o leve Contra o mar, não me rebelo O oceano é natureza É dom divino e tão belo
Criança que já brincou Junto ao grande mar de histórias Que cresça e seja um adulto Com excelente memória Lembrando dos castelinhos E de toda a sua glória
Que traga sempre na mente Que lembre de preservar As águas e os animais Que vivem nesse habitat Sempre atento às mil histórias Que o mar tem pra nos contar!
Com licença minha gente Permitam me apresentar Eu me chamo Mari Bigio Sobrenome de além-mar Nasci pra contar histórias Inventadas ou memórias Da poesia popular
Quero logo perguntar Você saber o que é Cordel? É história em verso e rima Num folheto de papel Patrimônio Cultural O Cordel é sem igual Poema de Menestrel
Com as honras e laurel Da nossa rica cultura Tem força na oralidade Potente Literatura O Cordel é imponente Apresenta, geralmente Na capa a xilogravura
Um carimbo com gravura Uma arte independente A matriz é de madeira E a tinta vem gentilmente A beleza revelar E assim poder estampar Os folhetinhos, na frente!
E assim peço, humildemente Licença, vou começar Vou falar de alguns heróis De heroínas vou lembrar Sertanejos, nordestinos Que meninas e meninos Possam sempre se inspirar
Quero logo iniciar Esse nosso Panteão Lembrando de um homem santo Peregrino do Sertão Do povo um grande guerreiro Foi Antônio Conselheiro Um profeta da razão
Com seu cajado na mão Amor e fé como escudos Foi um grande visionário Como hoje atestam os estudos Fundou uma sociedade Baseada na igualdade Era o Arraial de Canudos!
Pobres e índios desnudos Agricultores sem terra Escravizados libertos Cuja miséria desterra Em Canudos recebidos Por sua fama atraídos No Belo Monte, na serra.
Mas logo viria a Guerra Que até hoje está marcada Uma trama tão sangrenta Foi nos livros retratada Conselheiro liderou E Canudos enfrentou Fez humana barricada
O exército em retirada Várias vezes, recuou Pois temia a grande força Do povo que ali ficou Até que numa investida A luta enfim foi vencida Do arraial nada restou
Mas Conselheiro ficou Para sempre ser lembrado Levaram sua cabeça Seu corpo fora enterrado Mas sua história ‘inda corre Pois um herói nunca morre Segue vivo o seu legado.
Outro herói decapitado Que pra muitos foi bandido O ilustre Rei do Cangaço Pelo mundo conhecido O Famoso Lampião Que viveu lá no Sertão Homem muito destemido
Maria Foi Cangaceira Como Dadá foi também Mulheres cheias de força Que alcançaram muito além Do que o tempo permitia Que nos sirvam como guia Pra sermos fortes, amém!
Dentre tantas heroínas Dandara quero exaltar Mulher negra, quilombola Que é pra gente se orgulhar E saber que a nossa herança É de luta e de esperança Para ninguém questionar
Nós precisamos lembrar Da escravidão que passou Honrar os antepassados Que o europeu subjugou Nossa origem evocar Lá do outro lado do mar O canto negro ecoou
Eu agora me despeço Mas a lista não termina Viva o povo desta terra Nordestinos, nordestinas O Cordel pediu passagem Pra fazer esta homenagem Aos heróis e heroínas!
Cada um com sua sina Ariano Suassuna! Luiz Gonzaga de Exu, Baião foi sua fortuna Também Maria Firmina Romancista feminina Com sua escrita oportuna
E a história coaduna com a força da enfermeira Anna Nery, da Bahia No Brasil foi pioneira Frei Caneca fuzilado Por ter revolucionado Nossa história por inteira
E assim, queira ou não queira Não há como questionar Nordestino é povo heroico de jeito peculiar me despeço, está na hora adeus eu já vou embora torço pra logo voltar!
Capa por Murilo Silva – Todos os direitos reservados
Princesa tem sono leve É o que sempre ouvi dizer No entanto essa princesa Que você vai conhecer Dormia sono profundo Podendo acabar-se o mundo Que ela nem vai perceber!
Ela tinha parentesco Com a Bela Adormecida Mora na Pedra do Reino* Por todos é conhecida A princesa nordestina Com semblante de menina Porém madura e vivida
Cochilava um certo dia Debaixo de um Juazeiro Foi quando a Ema Gemeu** Abrindo um grande berreiro Um sinal de coisa ruim E a princesa mesmo assim Sonhava no seu terreiro
– Levante e vá visitar o príncipe Dom Augusto lá no Reino da Lonjura rapaz belo e bem robusto Gritou sua mãe, a rainha Acordando a pobrezinha Que quase morre de susto
Ela foi na carruagem Levada por um jumento Balançando mais que tudo – Desse jeito eu não me aguento! [Mas dormiu da mesma forma pois seu sono não tem norma e nem precisa de alento…]
Chegando lá na Lonjura Depois de dormir bastante Foi recebida no reino No fim do mundo, distante A rainha soberana Daquele reino a tirana A esperava hesitante:
– Para casar com meu filho só sendo mesmo perfeita! deve ser doce e bem meiga se não ele não te aceita! tem que ser bem delicada ser quieta e recatada para ser por ele eleita!
A princesa insatisfeita Não gostou do que ouviu Mas fez que “sim” com seu rosto E a tal rainha sumiu… Ao quarto foi conduzida Pela cama seduzida Se acomodou e dormiu
Só que antes a Rainha Colocou uma semente Entre os colchões confortáveis Próprios pra gente dormente Um carocinho de fava!*** Um teste que se aplicava À princesa pretendente
Se a princesa adormecesse E não percebesse o grão Não teria sono leve Como manda a tradição Seria então descartada E da Lonjura enxotada De volta para o Sertão
Mas a princesa dormindo Sonhou com a ema gemendo… E acordou do pesadelo – Que sonho triste e horrendo! sonhei que a ema gemia dormindo eu nem percebia já tô toda me tremendo!
O Sonho foi como aviso E ela então se levantou Nunca teve pesadelo Por isso se preocupou Queria voltar pra casa Mas só se tivesse asa Pois a rainha a trancou
Logo lembrou Rapunzel Sua priminha distante Mas não tinha o cabelão E assim ficou relutante Como fazer pra fugir? Foi aí que viu surgir Uma ideia bem brilhante
Foi à cama bem forrada Para os lençóis retirar Foi desforrando os colchões Pois pretendia amarrar Cada lençol com um nó Qual fossem corda ou cipó Pra poder se pendurar
Pela janela saltar… Seu plano em nada pecava Foi quando em meio aos colchões Viu um caroço de fava Que coisa mais intrigante Ela pensou num instante – Era só o que me faltava!
Desistiu da empreitada E esperou amanhecer A porta foi destrancada E com a rainha foi ter Chegou bufando, bem brava Com o caroço de fava Para todo mundo ver
A rainha estava estanque Nem podia acreditar – Você tem o sono leve! com meu filho vai casar vê-se que é delicada pois dormiu incomodada assim pude lhe testar
– Eu sou vim te perguntar… [Disse bem bruta a princesa] onde está o saco inteiro da fava da realeza? mande botar na bagagem que em tempos de estiagem vai ser útil, com certeza
pois adoro comer fava e como até me fartar pode dizer ao seu filho que não quero me casar que não sou fina, nem santa mas só não durmo sem janta por isso vim reclamar
essa noite um pesadelo esteve me perturbando nunca tive sonho ruim foi meu bucho reclamando de deitar sem refeição não foi por causa de um grão que estava me incomodando!
pensei até ter ouvido a tal da ema gemer mas foi mesmo o meu estômago que não teve o que comer fique sabendo Rainha com essa gente mesquinha eu não quero me envolver!
e se um dia eu voltar melhore a recepção! pois eu viajei por dias cheguei com a fome do cão e me portei como dama mas me mandaram pra cama sem um pedaço de pão?
A rainha se calou Pois estava envergonhada Viu a princesa partir Muito brava e chateada A partir daquele dia Ela não mais testaria Mais nenhuma convidada
Ao invés disso, mudou Fazendo a recepção Como manda o figurino E também a tradição Oferecendo um banquete Com fava, angu e sorvete E amor no coração
A princesa dorminhoca Voltou pra casa sozinha Com duas sacas de fava E mais uma de farinha Dormiu bem e satisfeita Com a fava na cama, eita! Mas dentro da barriguinha!
Por Mari Bigio, julho de 2021
A Princesa e a Fava, de Mari Bigio, é uma releitura do Conto de Fadas Clássico “A Princesa e a Ervilha”, de Hans Christian Andersen (1835). No enredo original a delicadeza da princesa é testada com uma ervilha, colocada em meio a uma pilha de colchões. Por sua pele extremamente delicada, só uma princesa de verdade é capaz de perceber o grão, pelo incômodo que ele provoca durante o sono.
* Referência ao “Romance da Pedra do Reino”, do mestre Ariano Suassuna ** Referência à canção “Canto da Ema”, do mestre Jackson do Pandeiro *** A Fava é uma semente semelhante ao feijão, muito comum em estados do Nordeste brasileiro.
Em 2021 fomos convidadas para apresentar a versão online da história “Um Reino sem Dengue”, o resultado vocês podem conferir no Youtube, um espetáculo de 30 minutos, utilizando bonecos, com tradução em libras, permeado por músicas e sonoplastia, que você pode exibir na sua escola! O texto traz informações muito importantes no combate ao Mosquito Aedes Aegypti!
ASSISTA AQUI!
Ministério do Turismo e Chem-Trend apresentam: “Um Reino Sem Dengue”.
Depois de circular por centenas de cidades Brasil afora, ‘Um Reino Sem Dengue’ ganha versão online para entreter toda a família e transforma a tela no seu palco principal para continuar conscientizando crianças e adultos sobre a dengue, um tema que se mantém atual e que, agora, utiliza a tecnologia para diminuir distâncias e garantir acesso à cultura e lazer à população de todas as idades.
A peça é ambientada em um reino onde não existem doenças, mas que é invadido por um inimigo “invisível” que deixa o rei doente. Para desvendar este mistério, o melhor detetive das redondezas é chamado. Com a ajuda do príncipe, das princesinhas e seus súditos, ele descobre que o grande vilão é o mosquito Aedes Aegypti. A história é baseada no livro homônimo de Alda de Miranda, que traz ilustrações de Ricardo Girotto.
Com músicas originais e paródias, a dupla de irmãs, Mari e Milla Bigio, cativa a atenção de grandes e pequeninos ao longo do enredo. A produção é da Villa 7 e AH 7 produções. O vídeo foi feito pela Curumim Produções, em parceria com o TECH HUB.