
Em um dia especial
Uma doce Pastorinha
Se preparava feliz
Para a Queima da Lapinha
Pôs o seu vestido azul
Que era cor do seu cordão
Saiu na rua cantando
Uma bonita canção:
“Boa noite meus senhores todos1
boa noite senhoras também
somos pastoras
pastorinhas belas
que alegremente vamos à Belém”
Pensava na brincadeira
Das noites de Pastoril
De tradição natalina
Da cultura do Brasil
Bem no meio do caminho
Encontrou sua vizinha
Com um vestido encarnado
Também era Pastorinha
Seguiram cantando juntas
Cumprimentando os passantes
Ficavam sempre felizes
Encontrando outros brincantes
Quando bateu meio-dia
O Sol quente de rachar
As amigas Pastorinhas
Sentaram pra descansar
Acharam uma boa sombra
Debaixo de um arvoredo
Mas ouviram um assobio
Que lhes causou grande medo!
“Isso é barulho de bicho
que está pronto pra atacar!
que bicho uma hora dessas
tá na mata a vadiar?”
Disse assim a Pastorinha
De laço azul na cabeça
E completou: “Lobisomem?
só chega caso anoiteça!”
A do Cordão Encarnado
Desconfiou do ruído
“Não é burrinha, nem boi
que eu conheço o mugido!
parece canto de pássaro
que não gosta de cantar
um canto saudoso e triste
faz o couro arrepiar!
um canto de mau agouro
vou rezar pro Anjo bom…
pra ver se o canto macabro
some logo ou muda o tom!”
E mesmo muito assombradas
As duas ficaram lá
Eis que o bicho apareceu
Era ele: o Jaraguá!
Elas quase desmaiavam
Quando o bicho enorme veio
Com seu crânio de cavalo
“Virge mãe, que bicho feio”!
O bicho de boca aberta
Avançava nas mocinhas
Era alto e pescoçudo
Bem maior que as Pastorinhas
Mas as duas recordaram
De uma canção pra ajudar
Pois o tal do Jaraguá
Gosta mesmo é de dançar
“Chegou, chegou2
já chegou meu Jaraguá
o bichinho é bonitinho
ele sabe vadiar…”
O bicho fechou a boca
E começou a bailar
Deu meia-volta e fez fita
Queria era se amostrar
Com pandeiros de fitinhas
As Pastoras, compassadas,
Pensavam na sua Mestra
E Contra-Mestra ensaiadas
Lembravam da Borboleta
Com sua delicadeza
E até mesmo da Diana
Tão cheia das incertezas
A Camponesa também
Veio logo na memória
E a encantada Cigana
Cheia de fibra e de glória
Evocando a força delas
Perderam logo seu medo
Bailaram com o Jaraguá
Mas isso fica em segredo
“Até que ele é bonitinho!”
Disseram no mesmo instante
O Jaraguá se movia
Com seu jeito vacilante
Como que enfeitiçado
O monstrengo deu no pé
Mas antes, com seu focinho
Fez nas duas cafuné
“Vou contar pra minha Mestra!”
“E eu também vou falar
para a minha Contra-Mestra
assim que eu a encontrar!”
Aquele encontro foi breve
Mas ficou no coração
No dia em que as pastorinhas
Dançaram com a assombração!
A tarde caiu de vez
E foi chegando à noitinha
Foram as duas Pastoras
Para a Queima da Lapinha!
“Viemos para adorar
jesus Nasceu para nos salvar…”3
- Cantiga típica do folguedo Pastoril
- Cantiga do Reisado
- Cantiga típica do folguedo Pastoril