Uma fome repentina
Me tomou de madrugada
Então eu fui à cozinha
Sonolenta e bem cansada
Pra comer, rapidamente
Inacreditavelmente
Lá me vi paralisada
Uma cena inusitada
Tomava todo o balcão
Um anúncio ao som do apito
Da panela de pressão
Dava início ao tal momento
Eis que era um casamento
Incrível celebração
Me escondi de supetão
Para não atrapalhar
O noivo, todo de branco
Esperava já no altar
Quando as taças, em coral
Soaram num tom cristal:
A noiva iria chegar!
Foi entrando a desfilar
Enquanto as frutas olhavam
Manteiga se derreteu
Legumes comemoravam
Vinagre e azeite juntinhos
Belo casal de padrinhos
Dos pombinhos se orgulhavam
– Eu vi quando namoravam,
Acompanhei desde cedo!
– Oh, não seja tão meloso!
O vinagre um tanto azedo
Repreendeu o azeite
Que suspirava em deleite
Romântico e sem segredo
Eu tava com um certo medo
De estar sonhando acordada
Mas era tudo tão mágico
Que me vi enfeitiçada
Dali não saí enfim
Assisti até o fim
A cerimônia encantada
A noiva estava arrumada
Com buquê de couve-flor
Com véu de papel toalha
O padre era um pegador
Daqueles de macarrão
Conduzindo a união
Com maestria e louvor
Foi aquele chororô
Com as alianças chegando
Feitas de anéis de cebola
E os noivos se declarando:
– Você dá tempero à vida!
– Te adoro minha querida!
E então foram se beijando!
Pegador finalizando
Declarou os dois casados
Foi chuva de arroz pra cima
Pra baixo e tudo que é lado
Casaram o Sal e a Pimenta
Coisa que a cabeça inventa
Em um sonho esfomeado!
por Mariane Bigio – Janeiro 2020