
o sapo – jota borges
Vou lhes contar uma coisa
Pra fazer queixo cair
Conheci seres fantásticos
Ninguém pode desmentir
Foi num sonho, tão profundo
Conto pra você ouvir:
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Fiquei boba de aplaudir
Criaturas tão famosas
Que vieram me falar
Me dizendo, tão queixosas
Que as cantigas e parlendas
Nos dão visões enganosas
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A primeira, toda prosa
A bela Sambalelê
Chegou de cabeça inteira
Imagine só você
Disse “eu não estou doente
Quem me encontra logo vê!”
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Do sovaco, pode crer,
Um termômetro tirou
De fato não tinha febre
E ela assim continuou
Muito braba e indignada
E ainda completou:
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“Não sei quem foi que inventou
Que preciso de palmada
E se estivesse doente
Devia ser castigada?
Só quero mesmo é dançar
Me esbaldar numa sambada!”
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“Está certa e apoiada!”
Tocando seu violão
Pai Francisco entrou na roda
Dando respaldo à questão
Criticando o delegado
Que o levou para a prisão.
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Não gostou Bumbalalão
Capitão que ele era
Dona Chica esbravejou:
“Vivemos em outra era!”
O gato do outro lado
Miando disse: “quem dera!”
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Seu Rei estava uma fera
Ao ver todos revoltados
Prevendo a revolução
Dos tais seres encantados
Pois quem toma consciência
Questiona ao ser comandado…
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O Sapo estava arretado:
“Vou processar o autor
Da minha biografia!
Sou um grande locutor
Minha imagem está bem suja
Mas lavo o pé, sim senhor!”
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Decida e com furor
Falou bem forte a mocinha:
“Eu não sou interesseira
Prefiro ficar sozinha
Não escolho namorado
De maneira tão mesquinha!”
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“E eu já disse, Oh Maninha!
Que não vou mais costurar”
A sapa falou tão séria…
“Eu também quero cantar
Se não, não tem casamento
Nem festa pra celebrar!”
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Eu precisei explicar
Falei que nem professor
Que aqueles versinhos todos
Não são de um só escritor
Pois são de Domínio Público
O povo é que é seu autor…
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Têm questionável teor
Ou conduta debochada
Mas isso é devido a época
Em que a canção foi forjada
Talvez como brincadeira
Possa ser modificada
.
Mas a história é contada
Através das tradições
As cantigas nos ensinam
E fazem demonstrações
Sobre os costumes de outrora
E assim nos deixam lições
.
Percebam que essas canções
Embalam os sonhos da gente
Fazem parte da Cultura
Da memória um expoente
Se a gente a não preservar
Se perdem completamente
.
Como fui bem eloquente
Os seres associados
Dispersaram-se em fumaça
Com os sorrisos estampados
Pois nos sonhos, os problemas
São todos solucionados
.
Ainda de olhos fechados
Me lembrei de uma canção
Vovó cantava de uma anjo
Que roubou seu coração…
E antes que eu despertasse
O anjo gritou: “roubei não!”